sábado, 26 de dezembro de 2009

CIÊNCIAS HUMANAS E HISTÓRIA

No quadro do contexto epistemológico acima apontado, a atualização dos métodos que fazem, em específico, da história tanto um ofício quanto uma ciência foi longa e contínua.
O aparecimento da história como disciplina tem início no século XVI, época do Renascimento no mundo ocidental. Foi por esta ocasião que surgiram novas exigências quanto a uma nova prática no que se refere ao estudo da História, fundamentada, sobretudo, no interesse crescente da intelectualidade renascentista pelos tempos da Antigüidade greco-romana, bem como da Idade Média. Trata-se, na verdade, do surgimento do humanismo renascentista que, animado por um sentimento de progresso (“às avessas”, ou melhor, tal sentimento se exprime por um regresso, uma releitura, enfim, um resgate do passado) em relação à Idade Média, busca o rigor quanto ao grau de veracidade de conteúdo na seleção dos documentos históricos; preocupação em tão-somente aceitar fatos ou textos autênticos, após minuciosa investigação histórica de verificação. Assim, tal preocupação crítica com textos, fatos e dados (mantendo a História adstrita ao campo das Letras) oferece a condição necessária para um passo significativo quanto ao desenvolvimento da disciplina histórica pelos humanistas.
Entretanto, nos dois séculos posteriores opera-se uma mudança radical na esfera do pensamento, devido, sobretudo, ao avanço técnico promovido pela Revolução Industrial, além da disseminação do pensamento filosófico-histórico-iluminista, o qual nega a ordem vigente, isto é, o “Antigo Regime”, para tornar possível o progresso; grosso modo, trata-se de um reducionismo histórico, pois, submete-se toda uma época a uma única chancela: a aposta no futuro! Nesse caso, a idéia de progresso dos humanistas no Renascimento, isto é, a elaboração de um conceito de “progresso” com vistas aos Antigos, ao passado – daí a procedência do nome: Renascimento! – tende a generalizar-se e a se difundir nos meios científicos, contudo, às avessas, como apontamos há pouco, visto que o conceito de progresso, retrabalhado pós-período renascentista, isto é, durante o Iluminismo, tem vista tão-somente para o futuro. Tal mentalidade dissemina-se nos domínios da história, da filosofia e da economia política, além d’outras áreas do saber, culminando na mentalidade que norteará os ideais da Revolução Francesa - evento capital da história moderna na medida em que assinala o triunfo político e ideológico da idéia de progresso. A definitiva ascensão da burguesia ao poder implica, então, numa nova imagem ou concepção do tempo, pois, a partir desta ocasião, determina-se como norma a substituição da idéia de um tempo cíclico de compreensão da história pela superioridade da idéia de um progresso linear, a qual privilegia, sobremaneira e a todo instante, o moderno.
Finalmente, o século XIX será decisivo quanto à consagração desta metodologia (“grávida” de idéia de progresso) nos estudos históricos, não só porque atualiza definitivamente o método “crítico” dos documentos (mera descrição da história), mas também porque consagra a grande influência de algumas correntes filosóficas, como por exemplo, o positivismo (grosso modo, a verdade se atinge somente pela experiência sensível externa); o historicismo (grosso modo, postula a existência de uma história universal, cuja investigação nos leva a conhecer todos os pontos do “continuum” histórico!); o materialismo histórico (grosso modo, o homem desaparece da história; há tão-somente os estudos atinentes aos modos de produção), todas elas assentadas no binômio Racionalidade-Futuro. O impacto dessas correntes filosóficas sobre a mentalidade dos historiadores foi durável, perdurando até mesmo no contemporâneo.

retirado de: http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/296112

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